Festim, A Festa do Horror

 

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A cruz no topo da torre mais alta da igreja se disfarçava timidamente com os véus de nevoa que pairavam sobre a Terra naquela manhã.

Padre Frederico abriu violentamente as enormes portas da igreja, que rangiram, espalhando seu eco pelo salão como se fosse infinito. Ao mesmo tempo em que a multidão invadiu o espaço rumo as barracas de venda da festa junina.

A barraca mais movimentada era ” A Boca do Palhaço”; onde a desproporcional imagem de  um palhaço encarava as pessoas, desafiando- as e então dirigindo um  sorriso frio e mórbido.

Todos os sons se misturavam em um alegre caos então por um momento tudo pareceu silenciar-se e o momento congelo – um grito estridente se destacou entre todos os outros sons.

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Enquanto o IML empacotava os membros e órgãos, que um dia formaram um corpo, Padre Frederico lamentava a tragédia que acontecia em sua igreja.

A discoteca se mantinha alheia ao caos que ocorria do lado de fora, como se as paredes delineassem dois mundos. Então mais gritos vieram, junto com uma fumaça que cortava o frio do inverno e se esquivava pleos tubos de respiração. Do lado de fora podia-se ouvir as batidas de desespero nas portas, agora eternamente trancadas.

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O tempo parecia paralisado e cada passo parecia ser errado na tentativa de fuga. Padre Frederico encarou o chão por uma fração de segundo, os olhos marejados e as mãos unidas em concha – tremendo- sentindo a vida deslizando como um sombra, sutilmente. Ali, encolhido em meio a multidão, parecia um corpo tão frágil quanto realmente era; seu corpo diminuto clamava compaixão.

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Padre Frederico olhou novamente para suas mãos tremulas em concha; agora formando um cálice de sangue, vermelho vivo -como as tulipas na primavera, quente -como uma doce canção no inverno.

 

DECLARAÇÃO DE “A” (NOMES EM SIGILO) -SOBREVIVENTE.

(…)

(Delegada): Quando o fogo começou a se espalhar?

(Sobrevivente): Logo após o IML levar o corpo. As pessoas não tiveram tempo de sair…era como se tivessem espalhado gasolina nas entradas do salão, e o fogo da discoteca logo passou de um lugar para o outro…na mesma hora, na verdade.

D: Está assimilando que foi tudo planejado?

S: é… espere, não sei…estou nervosa ainda  (soluços)

D: Devemos investigar isso. Mais alguma coisa relevante?

S: Hum… antes de sair correndo, pude ver ele, o psicopata ainda com a túnica…se pode ainda dizer que é de “padre” e a roupa ensanguentada no alto da torre da igreja rindo, Deus me perdoe, como se estivesse com o demônio. Pude ver o momento que ele se jogou lá de cima, depois de fazer toda essa tragédia…bebeu o sangue da própria vitima que assassinou! Eu juro delegada! Não estou louca!

(tumulto) (passos) (Fim da gravação)

Ele caminhou através da torre da igreja. Subiu no telhado,-o mai próximo do céu que conseguia. Olhou ao redor e viu nos rostos amedrontados das pessoas o horror, como via nos filmes de ficção. A fogueira da festa se unificando com o fogo do salão principal, e as labaredas devorando os corpos já frios. Então, abriu a boca e mostrou todos os dentes, como se alguém tivesse contado a melhor piada do ano. Sorriu uma ultima vez; um sorriso do gato da Alice, um sorriso como da “Boca do Palhaço”, um sorriso diabólico e mortal.

” Ele podia voar para longe dali em suas asas de anjo” pensou a medida que pulou.

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